quinta-feira, 30 de abril de 2015

As células imortais de Henrietta Lacks

Em 1951 Henrietta Lacks, com apenas 31 anos, morreu de câncer cervical. Hoje, mais de 60 anos depois, suas células “imortais” ainda são usadas e são essenciais para a pesquisa na área médica. Como surgiram essas células imortais? Qual a sua importância para a pesquisa hoje em dia? As respostas você encontra nesse texto de hoje do blog.
Henrietta (imagem 1) era uma mulher pobre que trabalhava em uma fazenda de tabaco próxima à Baltimore, nos EUA; com 30 anos ela descobriu que estava com câncer cervical (também chamado câncer de cólo de útero). Durante um exame em um dos melhores hospitais dos EUA uma amostra de suas células tumorais foi retirada, sem o seu consentimento, e entregue a um pesquisador que há anos falhava na tentativa de conseguir células tumorais que crescessem fora do corpo humano, o que ajudaria no entendimento do câncer. O pesquisador então ficou surpreso, pois as células de Henrietta se propagavam rapidamente no laboratório, diferentemente de todas as outras que ele havia testado.
Foi assim que esse pesquisador George Gey conseguiu, no ano de 1951, cultivar a primeira linhagem imortal de células humanas que passaram a se chamar células HeLa – pela junção das duas primeiras letras do nome e sobrenome de Henrietta. Assim como espalhavam-se nas placas de laboratório, as células tumorais espalharam-se pelo corpo de Henrietta que em outubro de 1951 morreu em decorrência do câncer, sem saber que de seu corpo, sem autorização, foram retiradas as células usadas por Gey.
Deixando de lado questões éticas e de responsabilidade, as células HeLa se tornaram extremamente importantes para a medicina desde então. Elas são chamadas imortais pois podem crescer indefinidamente, podem ser congeladas, podem se dividir várias vezes e podem ser compartilhadas entre os pesquisadores. Além disso, são fáceis de serem usadas e cultivadas em laboratório.
As células HeLa (imagem 1) foram importantes não só para o entendimento do câncer mas para a criação da vacina da poliomielite em 1952, a descoberta da enzima telomerase humana, para a clonagem, para experimentos de expressão gênica e até para testes nucleares. Estimativas indicam que existem mais de 75 mil artigos no mundo com menção às células HeLa e que se todas essas fossem enfileiradas dariam pelo menos três voltas ao redor da Terra!


Imagem 1: Henrietta Lacks com seu marido1 (acima) e as células HeLa2, conseguidas através da retirada de células cancerosas de Henrietta (abaixo). 
Fonte (1) adaptado de http://www.smithsonianmag.com/science-nature/henrietta-lacks-immortal-cells-6421299/?no-ist e (2) "HeLa cells stained with Hoechst 33258" by TenOfAllTrades - From English wiki 1. Licensed under Public Domain via Wikimedia Commons- http://commons.wikimedia.org/wiki/File:HeLa_cells_stained_with_Hoechst_33258.jpg#/media/File:HeLa_cells_stained_with_Hoechst_33258.jpg

         Mas por que essas células são imortais? Vamos lembrar que durante a divisão celular os telômeros dos cromossomos (veja aqui) se encurtam, ou seja, se tornam menores, levando a célula a ficar senescente e morrer depois de sucessivas divisões. Os cientistas acreditam que uma atividade anormal da enzima telomerase nas células HeLa impeça o encurtamento dos telômeros e assim como todas as células tumorais faça com que não envelheçam.
Outras análises mostram ainda que as células Hela não possuem o mesmo número de cromossomos que as células humanas, o que cria novas hipóteses do motivo das células HeLa serem diferentes de outras cancerosas. Assim, são necessárias mais pesquisas, principalmente depois de o genoma dessas células ser completamente sequenciado em 2013 (acesse aqui).
Muitas décadas se passaram desde a morte de Henrietta, mas as células HeLa continuam “imortais” com seu papel muito importante para a medicina. Pode-se esperar que muitas descobertas ainda sejam feitas e muitas vidas salvas por causa de seu uso na pesquisa médica. Henrietta quando morreu não sabia que nos deixaria tamanho legado, por isso é tão importante mostrar para as pessoas o seu papel na ciência e especialmente na medicina humana.
Agora que você sabe sobre as células HeLa não deixe de visitar a página da sua Fundação “The Henrietta Lacks Foundation” e saiba mais sobre sua história e de seus familiares.
Dúvidas e comentários são sempre bem-vindos!
Até a próxima!

Por Nathália de Moraes
nathalia.esalq.bio@gmail.com

Referências bibliográficas

[1] Callway, E. (2013). Deal done over HeLa cell. Nature. 500: 132-133. Disponível em:
[2] Zielinski, S. (2010). Henrietta Lacks’ “Immortal” cell. Acessado de http://www.smithsonianmag.com/science-nature/henrietta-lacks-immortal-cells-6421299/?no-ist em março de 2013.
[3] Muotri, A. (2008). A dama imortal: HeLa para os íntimos. Acessado de http://g1.globo.com/platb/espiral/2008/04/25/a-dama-imortal-hela-para-os-intimos/ em março de 2013.
[4] Cozer, R. (2011). A eterna presença de Henrietta. Acessado de http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,a-eterna-presenca-de-henrietta,695205 em março de 2013.
[5] Skloot, R. (sem data). The imortal life of Henrietta Lacks. Disponível em: http://rebeccaskloot.com/wp-content/uploads/2011/03/HenriettaLacks_RGG_timeline.pdf
[6] Ivankovic et al. (2007). Telomerase activity in HeLa cervical carcinoma cell line proliferation. Biogerontology. 8: 163-172. Disponível em: http://download.springer.com/static/pdf/598/art%253A10.1007%252Fs10522-006-9043-9.pdf?auth66=1426190318_f416e7fa94124cc05d9f3acc6d76e778&ext=.pdf

quinta-feira, 23 de abril de 2015

A origem mutante da tolerância à lactose

Você já deve ter ouvido falar dos X-Men. Eles são personagens de histórias em quadrinhos que têm super-poderes graças a mutações no DNA. Você acha que existem mutantes entre nós ou isso coisa de ficção?


Nessa matéria, vamos falar sobre a história evolutiva de uma mutação que surgiu em humanos há muitos anos e que foi essencial para a apreciação de maravilhas como a enorme variedade de queijos, o doce de leite e o chocolate.

É comum conhecermos pessoas que dizem não poder tomar leite ou iogurte, que são intolerantes à lactose, mas quando eram crianças não tinham esse problema. Isso é normal? Na verdade, esse é o cenário mais comum quando se considera os mamíferos como um todo: tomar leite materno logo ao nascer e mudar para uma dieta sem leite conforme crescem. Nós, humanos, somos exceções que conseguimos aproveitar o leite até na fase adulta. Vamos ver como isso aconteceu.

O leite e seus derivados contêm um tipo de açúcar chamado lactose e a lactase é a enzima responsável por digerir esse açúcar. Normalmente, as pessoas, assim como todos os outros mamíferos, conseguem digerir bem e obter energia da lactose desde que nascem até o fim da fase de amamentação. Apesar da maioria dos mamíferos diminuir e até encerrar a produção dessa enzima lactase quando deixam de depender do leite materno, atualmente cerca de 35% dos humanos adultos ainda são capazes de digerir lactose. Saiba mais sobre essa pesquisa aqui [1].

Ao longo da história evolutiva surgiram mutações em humanos que fizeram com que a lactase fosse produzida por mais tempo e, em alguns casos, até o final da vida. Essa mutação parece estar associada à prática do pastoreio, mas existem duas hipóteses que explicam como se dá essa associação. A primeira hipótese diz que a mutação surgiu e se espalhou em um grupo de pessoas por acaso, mas por terem a mutação, com o tempo começaram a consumir mais leite. A outra hipótese diz que a população de pastores já consumia leite e como a mutação conferia uma vantagem, essa característica se espalhou, assim como acontece em diversos casos de seleção natural. Estudos arqueológicos apoiam a segunda hipótese. Arqueólogos estudaram objetos de cerâmica com resíduos orgânicos que indicam o uso de leite há cerca de 8,5 mil anos no oeste da Turquia. Neste local, ainda hoje a mutação que faz a lactase ser produzida até a idade adulta é rara, o que indica que animais domésticos eram ordenhados mesmo que a mutação não estivesse presente. Veja mais aqui [2]. Existem evidências de que outras mutações com o mesmo resultado (produção de lactase em adultos) surgiram independentemente em outros continentes, como a África, por exemplo. Um estudo do DNA de pessoas da Tanzânia, do Kênia e do Sudão mostrou que três mutações diferentes resultaram no aumento da frequência da tolerância a lactose nessas populações nos últimos 7 mil anos [3].

Para maioria das pessoas é difícil imaginar a seleção natural atuando em humanos, mas há milhares de anos, quando não existiam supermercados, geladeira e suplementos alimentares, ter uma fonte de calorias constante era uma grande vantagem evolutiva. Por exemplo, quando ocorriam secas e a produção de grão era baixa ou entre os períodos de colheita, muitas pessoas poderiam não ter alimento suficiente para sobreviver ou para sustentar mais filhos. Se houvesse uma fonte de energia, como o leite, a falta de alimentos poderia ser um problema menor. Além disso, o leite também é uma fonte de cálcio muito importante, especialmente para pessoas que vivem em locais com pouca incidência de sol, o que acontece no norte da Europa, onde a mutação ocorre com uma frequência muito alta (89 a 96%).

Ainda há muito o que estudar para compreendermos os processos evolutivos que nos trouxeram até o que somos hoje. A genética e a arqueologia são duas áreas do conhecimento que podem nos levar a descobrir nossa história e existem ainda muitas outras. Leia aqui mais detalhes sobre esses estudos. [4]

Então, você é um mutante?

Existem outras mutações importantes que surgiram relativamente há pouco tempo nos humanos, como a que torna pessoas imunes ao vírus da AIDS. Vamos falar delas em outras publicações! Acompanhe!


Referências
[1] Ingram, C. J., Mulcare, C. A., Itan, Y., Thomas, M. G., & Swallow, D. M. (2009). Lactose digestion and the evolutionary genetics of lactase persistence. Human genetics, 124(6), 579-591.

[2] Evershed, R. P., Payne, S., Sherratt, A. G., Copley, M. S., Coolidge, J., Urem-Kotsu, D., ... & Burton, M. M. (2008). Earliest date for milk use in the Near East and southeastern Europe linked to cattle herding. Nature, 455(7212), 528-531.


[3] Tishkoff, S. A., Reed, F. A., Ranciaro, A., Voight, B. F., Babbitt, C. C., Silverman, J. S., ... & Deloukas, P. (2007). Convergent adaptation of human lactase persistence in Africa and Europe. Nature genetics, 39(1), 31-40.

[4] Gerbault, P., Liebert, A., Itan, Y., Powell, A., Currat, M., Burger, J., ... & Thomas, M. G. (2011). Evolution of lactase persistence: an example of human niche construction. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, 366(1566), 863-877.
http://rstb.royalsocietypublishing.org/content/366/1566/863.full

[5] http://news.sciencemag.org/archaeology/2015/04/how-europeans-evolved-white-skin


por Patricia Sanae Sujii
sujiips@gmail.com

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Bromélias e a possibilidade de novas espécies!

As flores caíram no gosto popular! Dificilmente você vai encontrar alguém que não tenha se quer uma flor em casa. A diversidade de flores disponíveis no mercado é muito grande, de diferentes formas, cores e tamanhos. Hoje vamos falar sobre uma em especial, as belas bromélias que vem conquistando um lugar de destaque no setor de floricultura e nos jardins de todo o país. Vocês conhecem essa flor?

a)   Bromélia imperial (Vriesia imperialis) http://www.flickr.com/photos/mauroguanandi/1936094156/
As bromélias pertencem à família das Bromeliaceae, que agrupa 56 gêneros e 2.600 espécies epífitas ou terrestres. As bromélias, em geral, são muito utilizadas para fins ornamentais, principalmente pelo seu aspecto exótico, exuberância, alta durabilidade pós-colheita e grande aceitação da população em todo o mundo. Com o avanço da tecnologia, existem estudos para a geração de novas espécies de bromélias, conhecidas como híbridas, por programas de melhoramento genético a partir do cruzamento de espécies já conhecidas.
O florescimento das bromélias estende-se durante o ano todo, cada espécie em sua época, assim, dificilmente duas espécies de bromélias florescem juntas. Então como é possível fazer o cruzamento entre espécies? Uma das possíveis técnicas a ser utilizada é a conservação de grão de pólen. O grão de pólen é a estrutura reprodutiva masculina das plantas fanerógamas (que produzem flores) e a obtenção de um método de conservação eficiente é fundamental para contornar a falta de sincronização dos períodos de florescimento.
E como saber qual método de conservação deve ser utilizado? Essa foi à pergunta que eu queria responder no meu projeto de iniciação científica no início da minha graduação, com orientação da Profª Dra. Adriana Pinheiro Martinelli e do doutorando Everton Hilo. O objetivo do meu trabalho foi à avaliação da eficiência de diferentes métodos de conservação de grãos de pólen da espécie Aechmea bicolor L. B. Sm., analisando a viabilidade da sua conservação, sem perder a capacidade de germinação e fertilização.
No estudo, os grãos de pólen dessa bromélia foram coletados e uma parte passou pelo processo de desidratação - retirada de toda a sua água. Em seguida, os grãos de pólen, com ou sem desidratação, foram armazenados em diferentes temperaturas (-5ºC, -80°C e -196°C). Após o período de armazenamento, foi utilizado plantas da mesma espécie, presente em casa de vegetação, para testar a viabilidade dos grãos de pólen. Essas plantas foram emasculadas (retirada da estrutura masculina) e ensacadas para garantir que apenas os grãos de pólen desejáveis chegassem às estruturas femininas da planta. 
Assim, para obter os resultados foi preciso esperar o amadurecimento dos frutos das bromélias utilizadas, avaliando se formavam ou não sementes. Foi incontestável que o melhor resultado de formação de sementes foi a tratamento em que o grão de pólen desidratado e armazenado em nitrogênio líquido, a uma temperatura de -196ºC. O resultado mostra o grande potencial desse tratamento na conservação do grão de pólen, e pode ser uma ferramenta poderosa nos programas de melhoramento genético de bromélias.
É claro que mais estudos são necessários para garantir a eficiência do método, mas já é um começo. Assim percebemos que a ciência que parece tão longe da gente, está na verdade em tudo, até nas belas flores dos nossos vasos e jardins. O melhoramento genético de flores está em alta, devido a grande potencial econômico de diversas espécies, que vem aquecendo a economia nos últimos anos. Quem sabe, daqui um tempo, não tenhamos novas belas espécies híbridas de bromélias em nossas casas? É esperar para ver!

 Por Nathalia Brancalleão
Contato: na_brancalleao@hotmail.com

Referências:
[1] de Souza, E. H., Souza, F. V. D., Rossi, M. L., Brancalleão, N., da Silva Ledo, C. A., & Martinelli, A. P. Viability, storage and ultrastructure analysis of Aechmea bicolor (Bromeliaceae) pollen grains, an endemic species to the Atlantic forest. Euphytica, 1-16.

[2] Brancalleão, N. . Fertilização in vivo de Aechmea bicolor (Bromeliaceae) com grãos de pólen conservados sob diferentes tratamentos. 2012. (Apresentação de Trabalho/Simpósio).

quinta-feira, 9 de abril de 2015

A Importância da Polinização


                                                                                                                                                                     Foto por Jaqueline Almeida


Muitas vezes não paramos para pensar nos serviços que a natureza nos oferece a todo o momento, como por exemplo, a polinização. Esse trabalho gratuito fornecido pelos ecossistemas naturais são os chamados “Serviços Ecossistêmicos”, que não se restringem a processos como a polinização, mas abrangem também os alimentos produzidos pela natureza, os recursos genéticos presentes no ambiente, os processos de purificação de água, regulação do clima e doenças e pragas. São esses serviços também que fornecem suporte para a produção de todos os outros, como a formação de solos, a ciclagem de nutrientes, a fotossíntese, dentre outros. Além disso, dentro dos serviços ecossistêmicos temos também os benefícios culturais, como a geração de conhecimentos, valores educativos, ecoturismo. 
No entanto, esses serviços oferecidos de graça pela natureza muitas vezes são esquecidos. Para confirmar isto basta olharmos como tratamos nossas florestas, rios e animais. Em 1997, um artigo publicado na Nature (Costanza, et al.) revelou  que o preço desses serviços naturais, se estes fossem “feitos” pelo homem, somariam um valor de 33 trilhões de dólares por ano!! O que nos leva a refletir se a destruição de matas, para a abertura de pastagens, realmente é a estratégia mais lucrativa... 
Mesmo com essas informações, as autoridades e a população de maneira geral só se da conta da importância desses serviços quando percebe a falta dele ou quando sentem no bolso o valor do mesmo, como é o caso da falta de chuvas e da polinização, respectivamente. 
A polinização é realizada por mais de 100 mil espécies de invertebrados e por cerca de 1,2 mil vertebrados, como pássaros e mamíferos. Dentro dos invertebrados, as abelhas são o grupo de maior representação, com mais de 20 mil espécies. 
Em números, um estudo realizado (Klein, et. al. 2007) revelou que 87 culturas globais de grande importância dependem da  polinização por animais, enquanto apenas 28 não dependem. Além das espécies cultivadas, existem cerca de 300 mil espécies de flores silvestres que dependem exclusivamente da polinização por insetos. O valor anual estimado deste serviço ecossistêmico na agricultura é de US$ 361 bilhões e considerando a sua necessidade para a manutenção da biodiversidade, seu valor é incalculável. 
Vem sendo observado uma redução do número de polinizadores no campo, principalmente abelhas, devido ao uso excessivo de pesticidas e agrotóxicos nas lavouras. Além dessas substancias, a destruição de florestas e a ausência de corredores ligando os fragmentos restantes, também influenciam na diminuição destas populações. Há registros também de infestação de ácaros (Varroa destructor) nas colônias de  abelhas Apis mellifera, demonstrando uma redução de aproximadamente 30% das colônias no hemisfério norte. 
A redução dos polinizadores pode comprometer a produtividade agrícola e consequentemente a segurança alimentar nas próximas décadas. Por isso, este é um assunto que necessita ser tratado com maior atenção pelas autoridades públicas, para que medidas preventivas sejam tomadas antes que seja tarde demais. 
Para quem tiver interesse sobre o assunto, sugiro que assista ao vídeo com Prof.ª. Dr.ª Vera Imperatriz Fonseca, professora no Instituto Biológico da USP, que desenvolve  estudos sobre polinizadores no Brasil:  https://www.youtube.com/watch?v=82Q50yuSGwY.



Jaqueline R. de Almeida 




Referências: 
[1] Alisson, E. (2014). Força-tarefa internacional fará diagnóstico sobre polinização no mundo. Disponível em: http://agencia.fapesp.br/forcatarefa_internacional_fara_diagnostico_sobre_polinizacao_no_mundo/19859/ 
[2] Costanza,  et al. (1997). The value of the world’s ecosystem services and natural capital. Nature. Vol. 387. Disponível em: http://www.esd.ornl.gov/benefits_conference/nature_paper.pdf 

[3] Klein,  et al.  (2007). Importance of crop pollinators in changing landscapes for world crops. Proc. R. Soc. Lond. B, Biol. Sci.v. 274, p. 303-313. 


quinta-feira, 2 de abril de 2015

Comunicação e tecnologia: até onde estamos mais livres?

           Começo meu último texto sobre o fenômeno da comunicação com uma cena comum nos dias atuais: um grupo de jovens senta-se à mesa de um barzinho, todos com seus celulares à mão digitando em ritmo veloz. Uma vez ou outra trocam palavras e olhares entre si, mas no grupo o que predomina mesmo é o ato de checar o celular a cada 10 minutos e a necessidade imediata de visualizar uma notificação quando a luz de aviso se acende. A mesma tecnologia que nos aproxima das pessoas distantes nos faz escravos e nos afasta de quem estamos próximos.
            Nos meus textos anteriores vimos a importância da comunicação no seu sentido mais amplo, abrangendo desde a escala molecular e celular, chegando aos animais e, é claro, a nós humanos. No texto de hoje, no qual conto com um colaborador (veja mais no box), vamos refletir como a tecnologia inegavelmente modificou nossa comunicação e o que ela nos proporciona – tanto no lado bom quanto no lado ruim, enfocando principalmente nas redes sociais, que hoje representam a principal forma de comunicação usada por muitas pessoas.
            O progresso tecnológico revolucionou os meios de comunicação e, portanto, a forma como nos comunicamos. Se antigamente os marinheiros mandavam cartas de amor por garrafas lançadas ao mar, hoje em dia é possível enviar instantaneamente uma mensagem para qualquer pessoa do mundo estando conectado à internet. Com o desenvolvimento de computadores mais potentes, celulares do tipo “smartphone”, videochamadas e com a internet cada vez mais veloz, hoje podemos nos chamar de “aldeia global”. Nesse conceito, popularizado pelo professor canadense M. McLuhan, o tempo e o espaço não são mais barreiras à comunicação, vivemos como em uma aldeia, ou seja, conectados a todos os indivíduos do mundo. As mídias (e por consequência as tecnologias relacionadas à comunicação) são uma extensão do homem fazendo com que um novo mundo de interações esteja à disposição. 

A tecnologia nos dá liberdade ou nos faz escravos?



           O que seria então uma barreira para a comunicação em um mundo onde há tanta facilidade proporcionada pelas tecnologias? Eu diria que uma barreira é o acesso aos recursos que a possibilitam: no sentido financeiro, ou seja, ter o dinheiro para comprar os equipamentos e acessar esses meios de comunicação; e no sentido político também, como a censura à internet que é imposta pelos líderes de alguns países como a Coréia do Norte. Outra questão é o próprio livre arbítrio, ou seja, a escolha das pessoas estarem ou não nesse modo “moderno” de comunicação social. Nesse caso, podemos perceber que apesar do inegável progresso que as tecnologias nos trouxeram de multiplicar os contatos, aproximar pessoas e difundir conhecimentos, os meios de comunicação não são autossuficientes, nós portanto podemos escolher ser ou não parte disso. Mas por que alguém optaria por ficar de fora desse tipo de comunicação?
           A partir daqui nosso esforço será em apontar algumas perturbações que o convívio diário com as redes sociais, uma das formas mais usadas para comunicação, pode nos provocar. Algumas delas, você leitor, pode não ter se dado conta conscientemente, porém a forma como age/reage pode estar relacionada a sua rotina intimamente ligada às tecnologias de comunicação.
           Na interação com computadores, por exemplo, todas as respostas são quase que imediatas: uma música é rapidamente tocada, um resultado pode ser encontrado em segundos e janelas se abrem e se fecham graciosamente sob seu comando. No entanto, quando estamos nos comunicando com pessoas, as respostas normalmente não são tão rápidas; elas não respondem a comandos e muitas vezes não possuem a informação que você tanto procura. Essas diferenças existentes entre homem e máquina são naturais, porém para nosso cérebro a distinção não é tão simples, principalmente quando passamos o dia todo trabalhando com máquinas, e isso pode gerar um sentimento de ansiedade e angústia, quase como o de trabalhar em um velho computador
           E por falar em velocidade com que as coisas acontecem, quanto tempo você costuma parar para refletir sobre as notícias que aparecem em sua timeline do Facebook? Diariamente somos bombardeados por uma infinidade de notícias através das redes sociais, isso sem entrar no mérito da auto-propaganda. As notícias podem ser as mais diversas: você pode ver um menino que reencontrou a família, a fantástica cura para o câncer ou gatinhos engraçados. Mesmo que você não leia na integra, já existe um esforço mental para julgar se deseja ou não se aprofundar na reportagem e isso nos desgasta mentalmente.
           Para não encerrarmos exaltando somente o lado negativo das redes sociais vamos relembrar alguns pontos positivos que tiveram grande impacto. O primeiro deles foi a influência das redes sociais na organização de protestos da “primavera árabe” que culminou derrubando alguns ditadores. O segundo foi como as redes sociais contribuíram para o êxito de alguns movimentos ambientais, como a proteção às baleias pelo Greenpeace, que você pode ver  nesse vídeo do Ted Talks.
           Com todos esses exemplos podemos perceber como a tecnologia influencia nossa comunicação. Hoje é muito mais fácil nos comunicar realmente como uma aldeia, seja por celular, telefone, jornais ou pelas tão citadas redes sociais. Impressionante também como nossa comunicação evoluiu de pinturas rupestres até compartilhamento online de todos os tipos de informação. Mas vale a pena destacar que não devemos ser escravos desse tipo de comunicação que nos aproxima e ao mesmo tempo afasta. Vamos aproveitar os benefícios tecnológicos mas sem nos esquecer da (eu diria) “boa e velha comunicação” e que não sejamos os exemplos que citei no primeiro parágrafo. E você, o que pensa sobre o assunto? Somos realmente escravos da comunicação moderna? Estamos perdendo a habilidade de nos comunicar pessoalmente? Deixe sua opinião na nossa página! Dúvidas e sugestões também são bem-vindas!
Até mais! 

Por Nathália de Moraes - nathalia.esalq.bio@gmail.com
& Lucas M. Taniguti - lucas.biotec07@gmail.com 

Lucas é formado em Biotecnologia pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) e possui mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas pela ESALQ/USP. Tem interesse em novas tecnologias, software livre, bioinformática e biologia.


Referências
[1] Rüdiger, F. (2011). As teorias da comunicação. Porto Alegre, Editora Penso.
[2] Choney, S. (2013, 29 de março). North Korea’s internet? What internet? For most, online access doesn’t exist. NBC News, disponível em http://www.nbcnews.com/tech/internet/north-koreas-internet-what-internet-most-online-access-doesnt-exist-f1C9143426
[3] Martino, L. M. (2001). Criador da idéia de "aldeia global" trouxe para a educação novo enfoque baseado em suas teorias sobre comunicação. Revista Educação. 46, 10. Acessado em http://www.titosena.faed.udesc.br/Arquivos/Marshall%20McLuhan.doc
[4] Munakata, S.S.T. (2011). Teorias da comunicação nos estudos de relações públicas. Porto Alegre, EdPucRS. Acesso eletrônico em http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/teoriasdacomunicacao.pdf
[5] Stress da tecnologia pode causar aumento de peso e envelhecimento precoce. (2014). Retirado de  http://www.tecmundo.com.br/saude/48642-stress-da-tecnologia-pode-causar-aumento-de-peso-e-envelhecimento-precoce.htm.
[6] Technostress. (2015). In Wikipedia. Acessado em 18 de janeiro de 2015, de http://en.wikipedia.org/wiki/Technostress.
[7] Primavera Árabe. (2015). In Wikipedia. Acessado em 18 de janeiro de 2015, de http://pt.wikipedia.org/wiki/Primavera_%C3%81rabe.