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quinta-feira, 2 de abril de 2015

Comunicação e tecnologia: até onde estamos mais livres?

           Começo meu último texto sobre o fenômeno da comunicação com uma cena comum nos dias atuais: um grupo de jovens senta-se à mesa de um barzinho, todos com seus celulares à mão digitando em ritmo veloz. Uma vez ou outra trocam palavras e olhares entre si, mas no grupo o que predomina mesmo é o ato de checar o celular a cada 10 minutos e a necessidade imediata de visualizar uma notificação quando a luz de aviso se acende. A mesma tecnologia que nos aproxima das pessoas distantes nos faz escravos e nos afasta de quem estamos próximos.
            Nos meus textos anteriores vimos a importância da comunicação no seu sentido mais amplo, abrangendo desde a escala molecular e celular, chegando aos animais e, é claro, a nós humanos. No texto de hoje, no qual conto com um colaborador (veja mais no box), vamos refletir como a tecnologia inegavelmente modificou nossa comunicação e o que ela nos proporciona – tanto no lado bom quanto no lado ruim, enfocando principalmente nas redes sociais, que hoje representam a principal forma de comunicação usada por muitas pessoas.
            O progresso tecnológico revolucionou os meios de comunicação e, portanto, a forma como nos comunicamos. Se antigamente os marinheiros mandavam cartas de amor por garrafas lançadas ao mar, hoje em dia é possível enviar instantaneamente uma mensagem para qualquer pessoa do mundo estando conectado à internet. Com o desenvolvimento de computadores mais potentes, celulares do tipo “smartphone”, videochamadas e com a internet cada vez mais veloz, hoje podemos nos chamar de “aldeia global”. Nesse conceito, popularizado pelo professor canadense M. McLuhan, o tempo e o espaço não são mais barreiras à comunicação, vivemos como em uma aldeia, ou seja, conectados a todos os indivíduos do mundo. As mídias (e por consequência as tecnologias relacionadas à comunicação) são uma extensão do homem fazendo com que um novo mundo de interações esteja à disposição. 

A tecnologia nos dá liberdade ou nos faz escravos?



           O que seria então uma barreira para a comunicação em um mundo onde há tanta facilidade proporcionada pelas tecnologias? Eu diria que uma barreira é o acesso aos recursos que a possibilitam: no sentido financeiro, ou seja, ter o dinheiro para comprar os equipamentos e acessar esses meios de comunicação; e no sentido político também, como a censura à internet que é imposta pelos líderes de alguns países como a Coréia do Norte. Outra questão é o próprio livre arbítrio, ou seja, a escolha das pessoas estarem ou não nesse modo “moderno” de comunicação social. Nesse caso, podemos perceber que apesar do inegável progresso que as tecnologias nos trouxeram de multiplicar os contatos, aproximar pessoas e difundir conhecimentos, os meios de comunicação não são autossuficientes, nós portanto podemos escolher ser ou não parte disso. Mas por que alguém optaria por ficar de fora desse tipo de comunicação?
           A partir daqui nosso esforço será em apontar algumas perturbações que o convívio diário com as redes sociais, uma das formas mais usadas para comunicação, pode nos provocar. Algumas delas, você leitor, pode não ter se dado conta conscientemente, porém a forma como age/reage pode estar relacionada a sua rotina intimamente ligada às tecnologias de comunicação.
           Na interação com computadores, por exemplo, todas as respostas são quase que imediatas: uma música é rapidamente tocada, um resultado pode ser encontrado em segundos e janelas se abrem e se fecham graciosamente sob seu comando. No entanto, quando estamos nos comunicando com pessoas, as respostas normalmente não são tão rápidas; elas não respondem a comandos e muitas vezes não possuem a informação que você tanto procura. Essas diferenças existentes entre homem e máquina são naturais, porém para nosso cérebro a distinção não é tão simples, principalmente quando passamos o dia todo trabalhando com máquinas, e isso pode gerar um sentimento de ansiedade e angústia, quase como o de trabalhar em um velho computador
           E por falar em velocidade com que as coisas acontecem, quanto tempo você costuma parar para refletir sobre as notícias que aparecem em sua timeline do Facebook? Diariamente somos bombardeados por uma infinidade de notícias através das redes sociais, isso sem entrar no mérito da auto-propaganda. As notícias podem ser as mais diversas: você pode ver um menino que reencontrou a família, a fantástica cura para o câncer ou gatinhos engraçados. Mesmo que você não leia na integra, já existe um esforço mental para julgar se deseja ou não se aprofundar na reportagem e isso nos desgasta mentalmente.
           Para não encerrarmos exaltando somente o lado negativo das redes sociais vamos relembrar alguns pontos positivos que tiveram grande impacto. O primeiro deles foi a influência das redes sociais na organização de protestos da “primavera árabe” que culminou derrubando alguns ditadores. O segundo foi como as redes sociais contribuíram para o êxito de alguns movimentos ambientais, como a proteção às baleias pelo Greenpeace, que você pode ver  nesse vídeo do Ted Talks.
           Com todos esses exemplos podemos perceber como a tecnologia influencia nossa comunicação. Hoje é muito mais fácil nos comunicar realmente como uma aldeia, seja por celular, telefone, jornais ou pelas tão citadas redes sociais. Impressionante também como nossa comunicação evoluiu de pinturas rupestres até compartilhamento online de todos os tipos de informação. Mas vale a pena destacar que não devemos ser escravos desse tipo de comunicação que nos aproxima e ao mesmo tempo afasta. Vamos aproveitar os benefícios tecnológicos mas sem nos esquecer da (eu diria) “boa e velha comunicação” e que não sejamos os exemplos que citei no primeiro parágrafo. E você, o que pensa sobre o assunto? Somos realmente escravos da comunicação moderna? Estamos perdendo a habilidade de nos comunicar pessoalmente? Deixe sua opinião na nossa página! Dúvidas e sugestões também são bem-vindas!
Até mais! 

Por Nathália de Moraes - nathalia.esalq.bio@gmail.com
& Lucas M. Taniguti - lucas.biotec07@gmail.com 

Lucas é formado em Biotecnologia pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) e possui mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas pela ESALQ/USP. Tem interesse em novas tecnologias, software livre, bioinformática e biologia.


Referências
[1] Rüdiger, F. (2011). As teorias da comunicação. Porto Alegre, Editora Penso.
[2] Choney, S. (2013, 29 de março). North Korea’s internet? What internet? For most, online access doesn’t exist. NBC News, disponível em http://www.nbcnews.com/tech/internet/north-koreas-internet-what-internet-most-online-access-doesnt-exist-f1C9143426
[3] Martino, L. M. (2001). Criador da idéia de "aldeia global" trouxe para a educação novo enfoque baseado em suas teorias sobre comunicação. Revista Educação. 46, 10. Acessado em http://www.titosena.faed.udesc.br/Arquivos/Marshall%20McLuhan.doc
[4] Munakata, S.S.T. (2011). Teorias da comunicação nos estudos de relações públicas. Porto Alegre, EdPucRS. Acesso eletrônico em http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/teoriasdacomunicacao.pdf
[5] Stress da tecnologia pode causar aumento de peso e envelhecimento precoce. (2014). Retirado de  http://www.tecmundo.com.br/saude/48642-stress-da-tecnologia-pode-causar-aumento-de-peso-e-envelhecimento-precoce.htm.
[6] Technostress. (2015). In Wikipedia. Acessado em 18 de janeiro de 2015, de http://en.wikipedia.org/wiki/Technostress.
[7] Primavera Árabe. (2015). In Wikipedia. Acessado em 18 de janeiro de 2015, de http://pt.wikipedia.org/wiki/Primavera_%C3%81rabe.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A Comunicação no Reino Animal

No meu último texto vimos que a comunicação é um fenômeno muito importante e amplo que compreende desde a comunicação humana (como o nosso blog de divulgação científica) até a comunicação entre as células do nosso corpo e a sinalização entre as bactérias. Mas como ocorre este fenômeno no reino animal? No texto de hoje vamos entender melhor como a comunicação animal é, na verdade, muito mais complexa do que pensamos; e digo isso por experiência própria: a disciplina de Comportamento Animal foi uma das mais ricas que cursei durante minha graduação, que abriu meus olhos para entender como o comportamento – e dentro deste, a comunicação – evoluíram nos animais.
Um dos exemplos mais interessantes na minha opinião é o que ocorre com alguns corvos e a história de como o pesquisador Bernd Heirich descobriu o fato é igualmente fascinante. Heirich sabia que estava diante de um enigma quando observou, durante um inverno, que corvos que se alimentavam de uma carcaça gritavam, atraindo outros corvos para a fonte de alimento. Mas por que os pássaros simplesmente não ficavam em silêncio para garantir o alimento farto, sem ter que dividir com os outros que apareciam? Uma das primeiras hipóteses que Heirich pensou foi que os corvos gritavam para chamar os “parentes” da mesma família que estavam na vizinhança para se alimentarem da carcaça. No entanto, essa hipótese foi rejeitada quando análises de DNA fingerprint  (veja mais sobre essa técnica no box abaixo) mostraram que os corvos que visitavam a carcaça não pertenciam a uma mesma família. Então, após várias observações do que acontecia, Heirich descobriu que, na verdade, os corvos só chamavam aos outros quando eles chegavam em uma carcaça que estava em um território guardado por um casal dessa mesma espécie de pássaro. Os casais defendem agressivamente uma carcaça que esteja em seu território, assim quando corvos que não tem par avistam uma fonte de alimento eles gritam para que outros corvos, também sem par, cheguem e assim vençam juntos as defesas do casal residente, podendo então se alimentar.  Essa comunicação oral é o que os pesquisadores denominam “chamada de recrutamento”. Fantástico, não é mesmo?
http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=25540&picture=corvo
DNA fingerprint. Nosso DNA possui sequências específicas de A, T, C e G que são reconhecidas e cortadas por algumas enzimas. Quando “cortamos” o DNA com essas enzimas são produzidos pequenos fragmentos do DNA de vários tamanhos e que podem ser visualizados em um gel. Nesse gel, o DNA aparece como bandas dispostas do maior para o menor tamanho, como se fosse então uma “impressão digital” do DNA no gel (por isso o nome fingerprint). Como cada pessoa tem sequências únicas de A, T, C e G no seu DNA as enzimas “cortam” também de maneira diferente o DNA de cada indivíduo e, por consequência, o fingerprint será diferente de pessoa para pessoa, ou no caso do texto, de animal para animal. Pessoas da mesma família possuem DNA fingerprint semelhante e dessa forma que é possível fazer os testes de paternidade. Quer saber mais? Veja esse vídeo no Youtube: DNA Fingerprinting Technique
Outro caso bem interessante é o do suricato, que vive na África - você provavelmente deve conhecê-lo como o Timão do filme “O Rei Leão”.  Este pequeno mamífero tem uma maneira bem própria de avisar aos seus companheiros da chegada de um predador. Eles se revezam em turnos e sempre alguns dos indivíduos do grupo tem a função de “sentinela”, ou seja, ficam observando se existem predadores por perto. Se eles avistam algum predador em potencial, emitem sinais específicos como um grito, que alertará aos outros animais do grupo do perigo iminente. Algumas pesquisas indicam, inclusive, que o grito emitido é tão específico que informa aos suricatos do grupo qual é o predador e o quão perigosa é a situação.
Com esses exemplos podemos ver como a vocalização é importante para a comunicação entre os animais. Mas será que outros tipos de comunicação, como a visual, também são importantes?
A resposta é sim. Além dos sinais de corte das aves, que são importantes para a escolha dos parceiros, a dança das abelhas é um dos exemplos mais interessantes de comunicação visual que existem no reino animal. Os pesquisadores observaram que quando uma operária volta de um lugar que tem alimento disponível ela dança na colméia, repetidamente, para avisar suas companheiras onde está o alimento. O ângulo e a duração dos movimentos do abdômen da abelha indicam a distância e a direção para onde as outras operárias devem ir para buscar pólen e néctar. Isso mostra como esses insetos cooperam para viverem socialmente.
Somente com esses exemplos já podemos ver o quanto a comunicação nas suas diversas formas é importante para os animais, pois ela tem papel no comportamento e, por consequência, na sobrevivência dos mesmos. A comunicação pode ajudar a encontrar alimento, parceiros e a se esconder de predadores. Nós, humanos, também somos animais e, a primeira vista, pode nos parecer que a comunicação em nossa sociedade é restrita apenas ao que a tecnologia nos proporciona. Mas o que será que nos possibilitou a comunicação falada, por exemplo? Como ela foi importante para nossa sobrevivência na pré-história? Será que nossos “parentes” neandertais também falavam como nós falamos?
Ficou curioso? No próximo texto vamos entender como a comunicação surgiu nos humanos e de que forma ela foi importante para nossa sobrevivência! Quer saber mais sobre o assunto de hoje? Abaixo estão alguns links com mais informações e vídeos interessantes sobre o tema. Sugestões e perguntas são sempre bem vindas!

Até a próxima!

Por: Nathália de Moraes
nathalia.esalq.bio@gmail.com

[1] Townsend, S.W., Rasmussen, M., Clutton-Brock, T., Manser, M.B. (2012). Flexible alarm calling in meerkats: therole of the social environment and predation urgency. Behavioral Ecology, doi: 10.1093/beheco/ars129. Acessado em 20 nov. 2014.
[2] Alcock, J. (2001). Animal Behavior: an evolutionary approach. 7º Ed. Sunderland:MA, Sinauer Associates. 494 p.
[3] Tarpy, D.R. (sem data). The honey bee dance language. Acessado do site da North Carolina State University (NCSU), Departamento de Entomologia. 
[4] At-Bristol Science Centre. (2014). Why do honey bees dance? (vídeo no Youtube). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2S-ozxpIrdI
[5] Globo Natureza. (2013). Suricatos (vídeo na internet). Disponível em:http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-natureza/v/globo-natureza-suricatos/2616884/