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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A falta de água e o desmatamento

Desde o início de 2014 estamos vivendo uma crise de abastecimento de água nunca antes vivida no Brasil. Passado dez meses, as chuvas ainda não vieram e vimos a crise se espalhar por vários estados, afetando drasticamente a Região Sudeste. Nós, brasileiros, estávamos acostumados a ver notícias sobre a seca na Região Nordeste, mas de um tempo para cá quem vem ganhando espaço na mídia é a Região Sudeste, considerada a região mais industrializada do país.
A falta de água trouxe drásticas consequências para os rios e reservatórios dessa região, como por exemplo, o Sistema Cantareira que abastece mais de 6,5 milhões de pessoas da região metropolitana de São Paulo. O nível de água deste sistema vem caindo progressivamente, chegando a operar com 10,5% de sua capacidade no último sábado (15), segundo a Sabesp, órgão responsável pelo gerenciamento deste sistema. Os rios também estão sofrendo com a seca, com a diminuição da vazão de água e altas taxas de mortalidade de peixes. Além disso, a seca vem afetando diretamente a piracema, movimento dos cardumes rio acima para a desova, prejudicando o ecossistema ao redor e podendo culminar na extinção de várias espécies na região.

Rio Piracicaba em Piracicaba/SP em maio de 2014 (Foto: Nathalia Brancalleão).
Especialistas da área são categóricos em afirmar que a responsabilidade da seca que atinge a Região Sudeste se deve, em parte, ao desmatamento desenfreado da Floresta Amazônica. Nos últimos anos, aproximadamente 20% das árvores originais desse bioma vieram ao chão por diversos motivos, como a expansão agropecuária, mineração e extração de madeira. A redução da área de floresta nessa região altera o fluxo de umidade entre as Regiões Norte e Sul do país.
Como isso ocorre? Simples, a evaporação das águas do Oceano Atlântico formam as primeiras nuvens, que através das correntes de ar são carregadas para a Amazônia e provocam grandes chuvas. A água atinge a floresta e rapidamente evapora, formando mais nuvens, que seguem para o oeste e são barradas pela Cordilheira dos Andes. Essas nuvens acompanham o contorno das montanhas e seguem para as Regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país, trazendo as chuvas para essas regiões.
A retirada da cobertura vegetal da região amazônica interrompe o fluxo de umidade entre o solo e a atmosfera. O fenômeno de transporte de grandes nuvens pelos ventos, da Amazônia até as outras regiões do país, são chamados de “rios voadores”. Com o desmatamento esses rios aéreos não conseguem percorrer o percurso necessário para chegar às Regiões Centro-oeste e Sudeste, causando grave escassez hídrica. Para que continuemos contando com os “rios voadores” que trazem parte da chuva para nossa região, precisamos tomar algumas medidas mitigatórias e preventivas, para que no futuro não tenhamos problemas tão sérios quanto os encontrados no presente.
No entanto, a situação é tão delicada que apenas cessar o desmatamento agora não seria suficiente para reverter essa situação, assim será preciso reflorestar muitas áreas já desmatadas. Essas medidas precisam ser executadas imediatamente para tentar sanar os problemas já existentes e, ao mesmo tempo, ajudar a remediar problemas futuros.
Enquanto esperamos as autoridades tomarem atitudes eficazes para tentar combater essa crise de abastecimento e seca que atinge a nossa região, podemos tomar atitudes simples para tentar ajudar. É preciso economizar água, através do uso consciente deste recurso, evitando o desperdiço com lavagens não necessárias, como utilizar reservatórios para armazenar água da chuva ou até mesmo reutilizar a água da máquina lava roupas para a lavagem de garagens e calçadas. Precisamos da ajuda de todos para conseguimos superar essa crise e, quem sabe, com práticas sustentáveis, construir um lugar melhor para as futuras gerações. Afinal, é assim que você quer deixar o planeta para os seus filhos?

Por Nathalia Brancalleão
na_brancalleao@hotmail.com

Referências: 
[2] Viana, V. (2011). A Amazônia e o interesse nacional. Artigo publicado na Revista Política Externa, volume, (19).
[3] Nobre, A. D. O Futuro Climático da Amazônia.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Florestas são importantes "apenas" para evitar racionamento?

Reservatório municipal de água de Iracemápolis antes e depois da restauração. 
(Fonte: Brancalion e colaboradores[1])

    Diariamente, ouvimos falar que os reservatórios de água do estado de São Paulo estão com níveis muito abaixo do normal. Existem cidades que já enfrentam até racionamento de água. É claro que a falta de chuvas anormal do último verão é um fator muito importante para isso, mas existe uma cidade no interior de São Paulo chamada Iracemápolis, muito próxima a Piracicaba e Rio Claro, que recebeu a mesma quantidade de chuvas e não tem risco de racionamento. Você deve estar se perguntando como isso é possível.
    No início da década de 1980, o reservatório de água de Iracemápolis estava com níveis baixos graças ao acúmulo de sedimentos em seu leito (assoreamento) causado pela erosão dos terrenos ao seu redor, que eram cobertos por plantações de cana-de-açúcar. Para resolver o problema, drenaram o reservatório e elevaram a altura da barragem. Além disso, para evitar futuros problemas similares, foi criado um cinturão de mata ao redor do reservatório (mata ciliar) para proteger as margens, o solo e as nascentes ali presentes. Este plantio de árvores em uma área degradada é chamado de restauração florestal.
    A restauração florestal é reconhecida por pesquisadores como uma das soluções para problemas ambientais relacionados tanto à biodiversidade como à proteção do solo e da água. Porém, o que a população em geral percebe como benefícios de restaurar matas? Um trabalho realizado no município de Iracemápolis (SP) mostrou algumas das respostas para essa pergunta.
    Aproximadamente 22 anos depois, uma pesquisa revelou o que os moradores de Iracemápolis percebem como benefícios da restauração da mata ao redor do reservatório de água municipal. O principal benefício indicado foi uma melhora na quantidade e na qualidade da água disponível. A maioria das pessoas (76%) lembra-se do período de grave escassez de água que ocorreu no passado e que não se repetiu depois da restauração da mata ao redor da represa. Muitos entrevistados (65%) afirmaram que poderiam até pagar impostos extras associados à conta de água, mas só se esse dinheiro fosse investido na restauração florestal no município. Dentre outros benefícios reconhecidos, destaca-se ter uma opção de local para recreação, já que a mata é visitada por pescadores, ciclistas e pessoas que gostam de fazer trilhas. Outros benefícios reconhecidos foram educacional (12%), com visitas de estudantes de diversos níveis de ensino; proteção da biodiversidade (12%); proteção do solo contra erosão (10%), entre outros.








Reservatório municipal de água de Iracemápolis
 em maio de 2014.
    É importante conhecer melhor quais desses benefícios são reconhecidos pela sociedade, pois isso pode ajudar a convencer tomadores de decisão da importância da restauração florestal. Esse conhecimento também pode ser útil para pesquisadores e entidades de proteção ao meio ambiente que desejam obter recursos para futuros projetos. Além disso, compreender essa percepção da população local é muito importante para o desenvolvimento e a implementação de novos projetos de lei, de modo que os problemas ambientais sejam sanados, sem deixar de atender as necessidades da sociedade.
    Agora conhecemos melhor a importância de se restaurar florestas. Na minha próxima matéria, falarei um pouco sobre como usamos informações genéticas para ajudar na restauração florestal.

Por Patricia Sanae Sujii
sujiips@gmail.com

Referência: 
[1] Brancalion PHS, Cardozo IV, Camatta A, Aronson J, Rodrigues RR. 2014. Cultural Ecosystem Services and Popular Perceptions of the Benefits of an Ecological Restoration Project
in the Brazilian Atlantic Forest. Restoration Ecology, 22(1): 65–71.