Olá queridos leitores! Para
encerrar nosso “Mês temático de Microbiologia”, iremos falar sobre os micro-organismos
no meio ambiente. Como vocês já viram nos textos anteriores, encontramos esses
organismos no nosso corpo, nas plantas, mas onde mais podemos encontrá-los no
ambiente? Se a resposta foi em toda a parte, vocês estão corretos! Mas em todos
os lugares mesmo? Sim, existe inclusive um grupo de micro-organismos que
conseguem sobreviver nos ambientes mais inóspitos do planeta e que por isso
levam o nome de extremófilos.
Os organismos extremófilos
podem ser definidos como aqueles que conseguem crescer sob - até mesmo preferindo
- condições ambientais extremas, como por exemplo, altas ou baixas
temperaturas, baixo pH ou alta salinidade, ou seja, ambientes nos quais apenas
um número limitado de espécies consegue viver e prosperar. O primeiro organismo
descrito com essas características foi Thermus
aquaticus, encontrado por Thomas
Brock em nascentes de água com temperaturas superiores a 70 °C no Parque Nacional de
Yellowstone nos Estados Unidos da América. Para quem não conhece esse é o
parque americano em que o famoso urso Zé Colméia mora nos desenhos animados da Hanna-Barbera.
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Fontes termais do Parque Nacional de Yellowstone nos Estados Unidos da América. Fonte: http://www.dreamstime.com/stock-image-yellowstone-national-park-image456241 |
Até o momento não se
acreditava que algum ser vivo pudesse sobreviver durante muito tempo em temperaturas
tão elevadas, mas a partir dessa descoberta foram encontradas, nos anos
subsequentes, muitas outras espécies de organismos extremófilos. Algumas dessas
espécies foram incluídas em um diferente domínio da vida, uma nova forma
sugerida recentemente pelos cientistas para classificar os organismos,
conhecidos como domínio Archaea (relembre no primeiro texto quem são as
arqueas!).
Um exemplo bem interessante de
organismo extremófilo é o fungo mitocondrial Crymyces antarcticus encontrado apenas em vales do deserto
antártico. Estes fungos vivem sob estresse ambiental, com crescimento ótimo
abaixo de 15°C ,
alta tolerância à acidez, e têm habilidade de lidar com altos níveis de
radiação ultravioleta e radioatividade. Estudos recentes mostram que C. antarticus consegue sobreviver em
condições especiais semelhantes àquelas encontradas no planeta Marte. Por esse
motivo, esse fungo é considerado um organismo modelo para Astrobiologia e
estudos com radiação gama.
As características especiais
dos micro-organismos extremófilos chamaram a atenção dos cientistas para o uso
biotecnológico em diversas áreas, como na indústria de fármacos, na agricultura
e na produção de biocatalizadores. Na pesquisa científica, a Taq DNA polimerase
termoestável é uma enzima encontrada no organismo Thermus aquaticus (daí o nome Taq) e foi descoberta por Brock. Sua
utilização é ampla e de extrema importância nos laboratórios de biologia
molecular até os dias de hoje, sendo sua função amplificar fragmentos de DNA
pela técnica de PCR (Reações em cadeia de polimerase) para os mais diversos
estudos de genética.
Outro exemplo vem do mesmo
famoso parque do Zé colméia, onde várias bactérias dos gêneros Clostridium, Anaerobacter, Caloramator,
Caldicellulosiruptor e Thermoanaerobacter
têm sido identificadas vivendo nas fontes termais e utilizando as plantas
que ali vivem para sobreviverem. Essas bactérias possuem enzimas que suportam
altas temperaturas e conseguem degradar o material vegetal e utilizá-lo como
fonte de alimento. Essas enzimas são de grande interesse da indústria de
combustíveis, pois possuem potencial para conversão da celulose, presente nas
plantas, em álcool, produzindo os chamados bicombustíveis.
Queridos leitores apresentamos
aqui algumas das muitas, digamos, “moradias diferentes” dos micro-organismos! E
também contamos um pouco de como esses micro-organismos tão diferentes podem
nos auxiliar no desenvolvimento de novas e importantes tecnologias. E
lembrem-se sempre: mesmo em um lugar muito diferente a vida está presente!
Por Nathália Brancalleão
na_brancalleao@hotmail.com
Andressa Peres Bini
andressa.p.bini@gmail.com
Referências
Bibliográficas
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