Os micro-organismos que habitam o interior das
plantas são chamados de micro-organismos endofíticos. Eles podem ser encontrados
em tecidos e órgãos vegetais como raízes, folhas, frutos e sementes. A
comunidade endofítica é constituída principalmente por fungos e bactérias que,
ao contrário dos micro-organismos patogênicos, não causam prejuízos aos seus
hospedeiros. Para termos uma noção do tamanho desta comunidade, conhecemos hoje
cerca de seis mil e quinhentos fungos endofíticos isolados de árvores e de herbáceas,
porém acredita-se que este número seja muito maior, e ainda estamos longe de
descobrir todas as espécies bacterianas e fúngicas associadas às plantas. Considerando
que existam aproximadamente 300.000 espécies de plantas superiores, e que uma
planta individual é colonizada por vários endófitos, a oportunidade de se
descobrir novos e interessantes micro-organismos é muito grande.
Os efeitos dos micro-organismos endofíticos nas
plantas são variados. Atualmente, a atenção
tem sido voltada ao estudo de endofíticos que podem atuar no controle biológico
de doenças vegetais e também aos que tem a capacidade de promover o crescimento
vegetal. Além disso, esses micro-organismos constituem um grupo ainda
pouco estudado de organismos produtores de metabólitos secundários com possível
aplicação biotecnológica.
Por ocuparem um nicho ecológico semelhante
àqueles ocupados por patógenos, os micro-organismos endofíticos apresentam
grande potencial para o controle biológico. Muitos apresentam produção de toxinas
e compostos secundários que protegem a planta hospedeira do ataque de fungos e
bactérias fitopatogênicas, insetos e até mesmo de outros animais herbívoros. Os
principais compostos produzidos por estes micro-organismos são os antifúngicos,
antibióticos, alcalóides e as neurotoxinas, tóxicos principalmente a insetos.
Além disso, existem diversos fungos entomopatogênicos, ou seja, que conseguem
colonizar insetos através de seu tegumento (ou “pele” dos insetos) por onde vai
crescendo, ramificando-se internamente, prejudicando os processos fisiológicos
dos insetos, que acabam morrendo.
Por ser um agente natural, o controle biológico
surge como uma alternativa ao uso de agroquímicos como os pesticidas que,
embora eficientes, apresentam riscos tanto aos trabalhadores que fazem sua
aplicação no campo, como também aos consumidores desses produtos. Em geral,
quando um micro-organismo é capaz de causar danos ou influenciar na ação de um
determinado patógeno, ele se apresenta como um agente específico, ou seja, ele realiza
esta reação apenas contra uma determinada espécie ou gênero. Essa característica
de especificidade é extremamente importante pois, além de não contaminar o meio
ambiente, esses micro-organismos, de maneira geral, não apresentam a mesma
capacidade de ação contra outros animais.
Existem muitas espécies de endofíticos utilizados
no controle biológico, como é o caso de Pseudomonas
sp., Metarhizium anisopliae, Zoophthora radicans, Bacillus thuringiensis, dentre outras.
Consequentemente, existem diferentes formas de aplicação destes micro-organismos,
alguns são aplicados nas sementes, outros nas folhas, outros após a colheita,
variando conforme o patógeno que se pretende combater.
A estratégia de aplicação de micro-organismos
que beneficiem o crescimento de plantas também é bastante promissora. Este tipo
de ação visa à substituição parcial ou total de fertilizantes e defensivos
químicos, os quais estão cada vez mais escassos e caros, além de causarem vários
problemas à saúde humana e ao meio ambiente.
A promoção do crescimento vegetal por
micro-organismos endofíticos pode ser o resultado de diversos mecanismos como:
indução de resistência sistêmica da planta contra fitopatógenos, fornecimento
de substâncias reguladoras do crescimento dos micro-organismos para as plantas
(como o ácido-indol-acético (AIA) e aminoácidos). Alguns endófitos também são
capazes de aumentar a disponibilidade de nutrientes através de processos como a
fixação biológica de nitrogênio, solubilização de fosfato mineral e produção de
sequestradores de ferro do solo, como os sideróforos.
Os efeitos no crescimento das plantas são
variados, podendo influenciar no crescimento das raízes, da parte aérea, no
aumento do peso da matéria seca, na área foliar, na velocidade de germinação
das sementes até mesmo na produtividade final.
Pseudomonas, Bacillus, Burkholderia e Streptomyces
estão entre os principais gêneros bacterianos empregados na agricultura visando
a promoção de crescimento das mais diversas culturas vegetais.
Tendo em vista a capacidade que os micro-organismos
possuem de produzir compostos benéficos ao crescimento e desenvolvimento de
plantas, seus metabólitos estão sendo cada vez mais estudados para tentar
atender à crescente necessidade por novas drogas, agentes quimioterápicos e
agroindustriais que sejam, ao mesmo tempo, mais efetivos, menos tóxicos e que
apresentem menor impacto ambiental.
O termo utilizado para busca de fontes
biológicas com características que podem ter valor para o desenvolvimento
comercial é “bioprospecção”, ou seja, a bioprospecção representa o processo que
busca no meio ambiente organismos, enzimas ou compostos que possam dar origem a
produtos de interesse, como medicamentos, inseticidas e defensivos agrícolas.
Desta forma, o desenvolvimento de novos produtos ou processos na área da
biotecnologia, tendo como base a bioprospecção,
só é possível graças à biodiversidade
microbiana existente, pois a mesma nos fornece inúmeras possibilidades de
desenvolvimento às novas aplicações biotecnológicas.
Essas são apenas algumas das aplicações que os
micro-organismos que vivem associados às plantas podem ter. Podemos notar que
seus benefícios, sejam eles diretos ou indiretos, incluem não somente o reino
vegetal, mas também todos nós.
Por Bruna Batista
bruna.biotec@hotmail.com
Jaqueline Almeida
jackalmeidajau@hotmail.com
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