Nesta
edição especial do blog, teremos um mês inteiro dedicado a assuntos
relacionados à microbiologia e é com imenso prazer que iniciamos esse
tópico explicando quem são os micro-organismos e sua atual classificação
em relação aos demais seres vivos. A definição clássica
micro-organismos era de organismos que só podem ser vistos
ao microscópio. Nesta, incluem-se os vírus e organismos uni ou
pluricelulares como as bactérias, os protozoários,
as algas unicelulares, fungos e os ácaros. Entretanto com o avanço da
ciência essa definição tem sido repensada.
Micro-organismos |
Por exemplo, você sabia que foi encontrada uma bactéria “gigante”, isso
mesmo uma bactéria visível a olho nu que mede aproximadamente 0,2 a 0,7
mm. Essa espécie, Epulopiscium fishelsoni, vive em simbiose (relação de
vantagem mútua) com peixe-cirurgião. Esse fato evidencia o quanto ainda
há para explorar desse mundo microscópico (ou nem tão microscópico
assim!) habitado pelos mais diversos e adaptados organismos do planeta.
Estima-se que atualmente tenham sido descritas mais de 70.000 espécies
de bactérias e fungos, os principais e mais bem estudados
micro-organismos. Você acha bastante? Na verdade, estudos apontam que
isso é menos de 1% das espécies existentes. A grande maioria dos
micro-organismos ainda precisa ser descoberta. Isso se deve em partes
pela limitação de estratégias de cultivo dos mesmos.
Por apresentarem uma grande diversidade metabólica, os micro-organismos
são capazes de viver em todos os ambientes até momento explorados,
desde fossas abissais no fundo do oceano até as mais remotas geleiras
polares. Isso diretamente reflete o enorme potencial de aplicação dos
mesmo e sua atuação para a manutenção da biosfera. Muitos
micro-organismos são vitais em ciclo biogeoquímicos, como do nitrogênio e
do enxofre. Eles também são excelentes degradadores de matéria
orgânica, bem como de compostos xenobióticos (como exemplo herbicidas) e
são capazes de produzir os mais diversos compostos como plásticos
biodegradáveis. A grande maioria dos antibióticos comerciais é
proveniente de bactérias e fungos. Na verdade estima-se que somente 3%
dos micro-organismos podem causar doenças. O restante pode ser inócuo ou
benéfico ao homem, como exemplo disso temos o fungo Saccharomyces
cerevisae responsável pela fermentação de bebidas alcoólicas, (cerveja,
vinho, cachaça) e muitos outros.
Atualmente, o grande desafio é a correta classificação e entendimento
da biologia desses organismos. O conceito biológico de espécie -
organismos são considerados da mesma espécie quando são capazes de
cruzarem e deixarem descentes férteis - por exemplo, não se aplica aos
micro-organismos. No caso das bacterias, organismos que são procariotos,
ou seja, possuem células sem núcleo delimitado por membrana, a
multiplicação celular ocorre por fissão binária e grande parte da sua
variabilidade genética é fruto da transferência lateral de genes, ou
seja, por processos alternativos ao sexo.
O mesmo ocorre com as arquéias, outro grupo classificado como
procariotos, recentemente descobertas e que são capazes de viver nas
condições mais extremas possíveis: altas temperaturas, alta salinidade e
pressão, entre outras. Este grupo é, na verdade, uma mistura de
eucariotos e procariotos, onde toda sua maquinaria genética relacionada
com a replicação, transcrição e tradução, são parecidas com a das
células eucarióticas. Já genes relacionados ao metabolismo celular são
parecidos com de bactérias. Uma loucura né? Além disso, para esse grupo
de micro-organismo a diversidade genética ocorre por transferência
horizontal de genes, ou seja, a variabilidade é fruto de combinações de
genes de grupos próximos, não somente por ancestralidade como ocorre com
a maioria dos seres vivos. Isso realmente dificulta e torna tão
interessante a classificação desses seres vivos.
Ainda pensando em representantes dos micro-organismos, muitos fungos
não tem ciclo sexual, ou se multiplicam por meio do ciclo sexual e
também assexual. Como classifica-los? Outro problema, muitos fungos por
terem os dois tipos de ciclos, possuem dois nomes. Qual o correto? Até
hoje os cientistas não entraram em um consenso. Isso sem descrever os
vírus, que são considerados seres acelulares, possuem material genético
próprio, mas são dependentes de outros seres para se multiplicar.
De fato, os micro-organismos possuem uma grande importância para nós.
Na década de 1970 eles foram vitais para o desenvolvimento das
tecnologias designadas de Engenharia Genética ou Tecnologia do DNA
Recombinante. Estas técnicas utilizam em uma ou outra etapa os
micro-organismos ou seus genes, mesmo quando objetiva-se a transformação
de plantas ou animais. Nas últimas décadas com a emergência e a
solidificação das novas áreas das Ciências como as Ômicas, Biologia de
Sistemas e Biologia Sintética, o uso de micro-organismos em estudos
genéticos tomou proporções nunca antes imaginadas. Uma bactéria
inteiramente desenvolvida em laboratório foi criada. Estamos imitando
Deus? Assim, fica evidente que apesar de microscópicos, esses organismos
são vitais para o desenvolvimento da vida como entendemos hoje e para o
desenvolvimento de novas ferramentas de estudos.
por Maria Carolian Quecine
mquecine@gmail.com
e Patricia S. Sujii
sujiips@gmail.com
mquecine@gmail.com
e Patricia S. Sujii
sujiips@gmail.com
Referências
Tortora GJ, Funke BR, Case CL. Microbiologia. Artmed, Porto Alegre-RS. 2012. 934 pp. ISBN: 8536326069 9788536326061.
Melo IS, Valadares-Inglis MC, Nass LL, et al. Recursos genéticos & melhoramento: microrganismos. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente. 2002.
Gerd HG. et al. Preparing synthetic biology for the world. Frontiers in Microbiology, v.4, artigo 5, 2013.
Gibson DG et al. Creation of a Bacterial Cell Controlled by a Chemically Synthesized Genome. Science 329, v. 52, 2010.
Tortora GJ, Funke BR, Case CL. Microbiologia. Artmed, Porto Alegre-RS. 2012. 934 pp. ISBN: 8536326069 9788536326061.
Melo IS, Valadares-Inglis MC, Nass LL, et al. Recursos genéticos & melhoramento: microrganismos. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente. 2002.
Gerd HG. et al. Preparing synthetic biology for the world. Frontiers in Microbiology, v.4, artigo 5, 2013.
Gibson DG et al. Creation of a Bacterial Cell Controlled by a Chemically Synthesized Genome. Science 329, v. 52, 2010.
The amazing microbial world
This whole month, we will have a special edition dedicated to subjects related to microbiology. It is with great pleasure that we start this topic explaining who are the micro-organisms and how they are classified in relation to other living beings. The classical definition of micro-organisms was “organisms that only can be seen at the microscope” in which are included viruses, and both unicellular and multicellular organisms such as bacterias, protozoa, unicellular algae, fungi and mites. However, this conception is being rethought with science progress. Did you know that scientist found a giant bacteria? It measures between 0.2 and 0.7 cm and it is possible to see it with the naked eye. This species is called Epulopiscium fishelsoni, and it lives in symbiosis (mutually beneficial relationship) with the surgeonfish. This highlights how much there is to explore in this microscopic (or not so microscopic) world inhabited by the most diverse and well adapted organisms in this planet.
This whole month, we will have a special edition dedicated to subjects related to microbiology. It is with great pleasure that we start this topic explaining who are the micro-organisms and how they are classified in relation to other living beings. The classical definition of micro-organisms was “organisms that only can be seen at the microscope” in which are included viruses, and both unicellular and multicellular organisms such as bacterias, protozoa, unicellular algae, fungi and mites. However, this conception is being rethought with science progress. Did you know that scientist found a giant bacteria? It measures between 0.2 and 0.7 cm and it is possible to see it with the naked eye. This species is called Epulopiscium fishelsoni, and it lives in symbiosis (mutually beneficial relationship) with the surgeonfish. This highlights how much there is to explore in this microscopic (or not so microscopic) world inhabited by the most diverse and well adapted organisms in this planet.
Microbes |
We estimate that more than 70,000 species of bacteria and fungi have
already been discovered and described, which are the main and best
studied micro-organisms. Do you think it is a lot? In fact, some studies
indicate that these are less than 1% of existing species. The vast
majority of micro-organisms have yet to be discovered. This is, in part,
due to the limitation of micro-organism growth techniques.
Because of the great metabolic diversity observed in different species,
micro-organisms are able to live in all environments explored so far,
from abyssal trenches on the ocean floor to the most remote glaciers in
the South and North Pole. This shows the enormous potential applications
for humans and their roles in the biosphere maintenance. Many
micro-organisms are essential in biogeochemical cycles, as in the
nitrogen and the sulphur cycles. They are also excellent decomposers of
organic material, as well as xenobiotic compounds (such as herbicides),
and are able to produce the most diverse compounds, for example
biodegradable plastics and most commercial antibiotics that come from
bacterias or fungi. As matter of fact, it is estimated that only 3% of
micro-organisms can cause diseases and all the others may both be
innocuous or beneficial to humans. One example of this is the fungi
Saccharomyces cerevisae, which is responsible for fermentation of
alcoholic drinks as beer, wine and cachaça (a Brazilian strong drink).
Now, one big challenge is the correct classification and understanding
of these organisms biology. The biological species concept (species is a
group of organisms potentially capable to breed and generate fertile
descendants) does not apply to micro-organisms. Bacterias are prokaryote
(organisms without a membrane around the nucleus) that reproduce by
binary fission (cell division) and most of their genetic variability is
consequence of lateral transfer of genes, which is different from sexual
reproduction.
The same is true for the archaeas, an other group classified as
procaryotes recently discovered that are able to live in the most
extreme conditions: high temperatures, high salinity, high pressure and
others. In fact, this group is a mix of eucaryotes and procaryotes,
because all genetic machinery responsible for cell replication,
transcription and translation are similar to eucaryote cells. On the
other hand, genes related to cell metabolism are more similar to
bacterias (procaryotes). Crazy, isn’t it? Furthermore, in this group of
organisms, the genetic diversity is transferred horizontally, i.e., the
variability is a result of gene combinations in closely related groups,
not only by ancestry as in most living being. This really complicates
and makes the classification of these organisms so interesting.
Another example of micro-organisms is the fungi. Some of them do not have a sexual cycle, others have both sexual and asexual reproductive cycles. How can we classify them? Another problem is the fungi group that, having both cycles, were named twice. Which name should be the right one? So far, scientists could not reach a consensus. There are also viruses, which are considered acellular beings, have their own genetic material, but are dependent of other organisms to multiply.
Another example of micro-organisms is the fungi. Some of them do not have a sexual cycle, others have both sexual and asexual reproductive cycles. How can we classify them? Another problem is the fungi group that, having both cycles, were named twice. Which name should be the right one? So far, scientists could not reach a consensus. There are also viruses, which are considered acellular beings, have their own genetic material, but are dependent of other organisms to multiply.
Indeed, microorganisms are very important for us. In the 1970s, they
were essential to the development of technologies called genetic
engineering or recombinant DNA technology. These techniques use
micro-organisms or their genes in at least one step, aiming to transform
other organisms as plants or animals. In the last decades, after the
advent and establishment of new study areas such as the “Omics”, System
Biology, and Synthetic Biology, the use of microorganisms in genetic
studies reached proportions never thought before. For example,
scientists developed a whole bacteria in the laboratory. Are we
mimicking God? Thus, it is evident that although microscopic, these
organisms are vital to the development of life as we understand it today
and for the development of new tools for studies.
by Maria Carolian Quecine
mquecine@gmail.com
and Patricia S. Sujii
sujiips@gmail.com
mquecine@gmail.com
and Patricia S. Sujii
sujiips@gmail.com
english review by Emily Lachapelle
References
Tortora GJ, Funke BR, Case CL. Microbiologia. Artmed, Porto Alegre-RS. 2012. 934 pp. ISBN: 8536326069 9788536326061.
Melo IS, Valadares-Inglis MC, Nass LL, et al. Recursos genéticos & melhoramento: microrganismos. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente. 2002.
Gerd HG. et al. Preparing synthetic biology for the world. Frontiers in Microbiology, v.4, artigo 5, 2013.
Gibson DG et al. Creation of a Bacterial Cell Controlled by a Chemically Synthesized Genome. Science 329, v. 52, 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário