Em
1951 Henrietta Lacks, com apenas 31 anos, morreu de câncer cervical. Hoje, mais
de 60 anos depois, suas células “imortais” ainda são usadas e são essenciais
para a pesquisa na área médica. Como surgiram essas células imortais? Qual a
sua importância para a pesquisa hoje em dia? As respostas você encontra nesse
texto de hoje do blog.
Henrietta
(imagem 1) era uma mulher pobre que trabalhava em uma fazenda de tabaco próxima
à Baltimore, nos EUA; com 30 anos ela descobriu que estava com câncer cervical
(também chamado câncer de cólo de útero). Durante um exame em um dos melhores
hospitais dos EUA uma amostra de suas células tumorais foi retirada, sem o seu
consentimento, e entregue a um pesquisador que há anos falhava na tentativa de
conseguir células tumorais que crescessem fora do corpo humano, o que ajudaria
no entendimento do câncer. O pesquisador então ficou surpreso, pois as células
de Henrietta se propagavam rapidamente no laboratório, diferentemente de todas
as outras que ele havia testado.
Foi
assim que esse pesquisador George Gey conseguiu, no ano de 1951, cultivar a
primeira linhagem imortal de células humanas que passaram a se chamar células
HeLa – pela junção das duas primeiras letras do nome e sobrenome de Henrietta.
Assim como espalhavam-se nas placas de
laboratório, as células tumorais espalharam-se pelo corpo de Henrietta que em
outubro de 1951 morreu em decorrência do câncer, sem saber que de seu corpo, sem
autorização, foram retiradas as células usadas por Gey.
Deixando
de lado questões éticas e de responsabilidade, as células HeLa se tornaram
extremamente importantes para a medicina desde então. Elas são chamadas
imortais pois podem crescer indefinidamente, podem ser congeladas, podem se
dividir várias vezes e podem ser compartilhadas entre os pesquisadores. Além
disso, são fáceis de serem usadas e cultivadas em laboratório.
As células HeLa (imagem 1) foram importantes
não só para o entendimento do câncer mas para a criação da vacina da
poliomielite em 1952, a descoberta da enzima telomerase humana, para a
clonagem, para experimentos de expressão gênica e até para testes nucleares.
Estimativas indicam que existem mais de 75 mil artigos no mundo com menção às
células HeLa e que se todas essas fossem enfileiradas dariam pelo menos três
voltas ao redor da Terra!
Imagem 1: Henrietta Lacks com seu marido1 (acima) e as células HeLa2, conseguidas através da retirada de células cancerosas de Henrietta (abaixo).
Fonte (1) adaptado de http://www.smithsonianmag.com/science-nature/henrietta-lacks-immortal-cells-6421299/?no-ist e (2) "HeLa cells stained with Hoechst 33258" by TenOfAllTrades - From English wiki 1. Licensed under Public Domain via Wikimedia Commons- http://commons.wikimedia.org/wiki/File:HeLa_cells_stained_with_Hoechst_33258.jpg#/media/File:HeLa_cells_stained_with_Hoechst_33258.jpg
Mas por que essas
células são imortais? Vamos lembrar que durante a divisão celular os telômeros
dos cromossomos (veja aqui) se encurtam, ou seja, se tornam menores,
levando a célula a ficar senescente e morrer depois de sucessivas divisões. Os
cientistas acreditam que uma atividade anormal da enzima telomerase nas células
HeLa impeça o encurtamento dos telômeros e assim como todas as células tumorais
faça com que não envelheçam.
Outras
análises mostram ainda que as células Hela não possuem o mesmo número de
cromossomos que as células humanas, o que cria novas hipóteses do motivo das
células HeLa serem diferentes de outras cancerosas. Assim, são necessárias mais
pesquisas, principalmente depois de o genoma dessas células ser completamente
sequenciado em 2013 (acesse aqui).
Muitas
décadas se passaram desde a morte de Henrietta, mas as células HeLa continuam
“imortais” com seu papel muito importante para a medicina. Pode-se esperar que
muitas descobertas ainda sejam feitas e muitas vidas salvas por causa de seu
uso na pesquisa médica. Henrietta quando morreu não sabia que nos deixaria tamanho
legado, por isso é tão importante mostrar para as pessoas o seu papel na
ciência e especialmente na medicina humana.
Agora
que você sabe sobre as células HeLa não deixe de visitar a página da sua
Fundação “The Henrietta Lacks Foundation” e saiba mais sobre sua história e de seus familiares.
Dúvidas
e comentários são sempre bem-vindos!
Até
a próxima!
Por Nathália de Moraes
nathalia.esalq.bio@gmail.com
Referências bibliográficas
[1] Callway, E. (2013). Deal done over HeLa cell. Nature. 500:
132-133. Disponível em:
[2] Zielinski, S. (2010). Henrietta Lacks’ “Immortal”
cell. Acessado
de http://www.smithsonianmag.com/science-nature/henrietta-lacks-immortal-cells-6421299/?no-ist em março de 2013.
[3] Muotri, A.
(2008). A dama imortal: HeLa para os íntimos. Acessado de http://g1.globo.com/platb/espiral/2008/04/25/a-dama-imortal-hela-para-os-intimos/ em março de 2013.
[4] Cozer, R.
(2011). A eterna presença de Henrietta. Acessado de http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,a-eterna-presenca-de-henrietta,695205 em março de 2013.
[5] Skloot, R. (sem data). The imortal life of
Henrietta Lacks. Disponível
em: http://rebeccaskloot.com/wp-content/uploads/2011/03/HenriettaLacks_RGG_timeline.pdf
[6] Ivankovic et al. (2007). Telomerase activity in HeLa cervical carcinoma cell line proliferation. Biogerontology. 8: 163-172. Disponível em: http://download.springer.com/static/pdf/598/art%253A10.1007%252Fs10522-006-9043-9.pdf?auth66=1426190318_f416e7fa94124cc05d9f3acc6d76e778&ext=.pdf
[6] Ivankovic et al. (2007). Telomerase activity in HeLa cervical carcinoma cell line proliferation. Biogerontology. 8: 163-172. Disponível em: http://download.springer.com/static/pdf/598/art%253A10.1007%252Fs10522-006-9043-9.pdf?auth66=1426190318_f416e7fa94124cc05d9f3acc6d76e778&ext=.pdf
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