Muitas indústrias aproveitam de palavras e
termos científicos difíceis, inapropriados ou sem alguma explicação para vender
seus produtos por preços absurdos através de propagandas que prometem “milagres”.
Certa vez, eu estava folheando um catálogo de utilidades domésticas como copos,
vasilhas, talheres e reparei que alguns produtos estavam com o selo: “Livre de BPA”. Pensei comigo: o que é esse “BPA”? Será um
corante ou um material específico? Como é de se esperar, no catálogo não havia
nenhuma outra informação, mas de certo muitas pessoas – mesmo sem saber o que
significa ser “Livre de BPA” – comprariam o produto somente pela propaganda,
que sugere alguma vantagem desse produto em relação aos demais. Com a sugestão
de um leitor e como a proposta do nosso blog é “traduzir ciência”, essas
inquietações me renderam mais um texto! E então, vamos entender o que é BPA e
quais os perigos para a nossa saúde?
O que é o BPA?
O BPA é uma abreviação para bisfenol A (em inglês: biphenol A) e é um composto químico industrial muito utilizado na
fabricação de resinas, vernizes e plásticos do tipo policarbonato. Devido às
suas características - transparência e resistência térmica e mecânica- o policarbonato é largamente usado na fabricação de copos
infantis, mamadeiras, galões de água e outros utensílios e embalagens de
alimentos mais rígidas. Além disso, o BPA também é encontrado no verniz que
reveste latas metálicas utilizadas na indústria de alimentos e até mesmo em
alguns papéis “termoestáveis” como aqueles que recebemos no caixa eletrônico ou
no mercado (figura 1).
Figura 1: exemplo de embalagens, recipientes e papel que podem
utilizar BPA em sua composição.
|
Qual o problema com o
uso do BPA?
Após mais de 40 anos da aprovação do BPA para o
uso em recipientes que embalam alimentos, alguns estudos levantaram a
possibilidade de que este não seria um composto seguro para a saúde humana. A
Organização Mundial de Saúde (OMS) fez uma reunião com vários especialistas
para discutir o assunto e, segundo estudos, o BPA dos plásticos e das resinas
consegue se “infiltrar” nos alimentos, principalmente quando são aquecidos junto com a comida (por
exemplo, quando aquecemos comida no microondas). Além disso, alguns estudos
também sugerem que até mesmo os papéis termoestáveis podem ser uma fonte de
contato com o BPA. Um estudo realizado em 2010 concluiu que 93% dos
norte-americanos com 6 anos ou mais tinham níveis detectáveis de BPA em seu
corpo.
Quais são os riscos
para a saúde?
O que o BPA acarreta para a saúde ainda é incerto. Não
existem muitos estudos na área, mas algumas pesquisas associaram a exposição ao
BPA com mudanças no desenvolvimento de fetos e de recém-nascidos, e nas
glândulas mamárias e próstata de roedores. Outros estudos, no entanto, sugerem
que o BPA é na verdade rapidamente metabolizado pelo nosso corpo e transformado
em uma forma inativa. Apesar de parecerem contraditórios, esses resultados
servem como base e orientam para novas pesquisas mais conclusivas na área.
O que se tem feito a
respeito?
Por precaução, alguns países como o Brasil proibiram a
importação e a fabricação de mamadeiras e copos infantis que contenham BPA em
sua composição; no caso dos outros usos e recipientes existe um limite máximo,
estabelecido pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), da
quantidade de BPA que o produto pode conter. Essa proibição vigora desde 2012
no Brasil e obriga os fabricantes a informarem em suas embalagens a presença de
BPA em seus produtos.
Existem alternativas
no mercado? O que é um produto “livre de BPA”?
Depois da proibição do uso de plásticos com BPA em muitos
países, muitas indústrias (principalmente as de mamadeiras e copos infantis) foram
obrigadas a utilizarem produtos “livres de BPA”. O BPS (abreviação de bifenol
S) foi uma dessas alternativas, pois acreditava-se que ele seria mais difícil de
“infiltrar” nos alimentos, principalmente durante o aquecimento. Porém, estudos
do ano passado revelam que na verdade o BPS pode se “infiltrar” nos alimentos e
causar sérios danos a saúde, pois ele interrompe o funcionamento normal de uma
célula até em concentrações de menos de uma parte por trilhão! O problema ainda
se agrava quando pensamos que na proibição do BPS, provavelmente este será
substituído por outra substância que também não saberemos ser segura ou não à
saúde.
Como infelizmente não podemos ter certeza se um plástico é realmente
seguro ou não, vale o “princípio da precaução” - evite aquecer embalagens
plásticas, principalmente se estiver em contato com alimentos e bebidas e
procure usar potes e embalagens de vidro e cerâmica que são mais seguras e
higiênicas também!
Ficou com alguma dúvida ou tem sugestões? Comente na
nossa página!
Até a próxima!
Por Nathália de Moraes
nathalia.esalq.bio@gmail.com
*A autora gostaria de agradecer a Pilar Mariani pela revisão técnica do texto
Referências
[1]
National Toxicology Program.
(2010). Biphenol A (BPA). Acessado de https://www.niehs.nih.gov/research/supported/assets/docs/a_c/bpa_fact_sheet_508.pdf em julho de 2015.
[3] U.S. Food and Drug Administration.
(2014). Bisphenol A (BPA): Use in Food
Contact Application. Acessado de http://www.fda.gov/NewsEvents/PublicHealthFocus/ucm064437.htm
em julho de 2015.
[4] Bilbrey, J.
(2014). BPA-Free Plastic Containers May
Be Just as Hazardous. Acessado de http://www.scientificamerican.com/article/bpa-free-plastic-containers-may-be-just-as-hazardous/ em
julho de 2015.
[5] Newgent, J. (sem data). Glass vs. Plastic
Containers.Acessado de http://www.homefoodsafety.org/refrigerate/glass-vs-plastic-containers em julho de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário