O
mês de junho está chegando e com ele as Festas Juninas e suas tradições, o Dia
dos Namorados e todo seu romantismo, o friozinho do outono/inverno que fica
mais intenso... Tem muita gente que não gosta do frio, outras que adoram (assim
como eu!), mas independente de gostar ou não o nosso corpo precisa se adaptar
às mudanças que as temperaturas mais baixas nos provocam. No texto de hoje do “Ciência
Informativa” vamos entender como o nosso corpo se altera fisiologicamente no
frio e descobrir curiosidades relacionadas às quedas na temperatura. Então se
aconchegue no seu cobertor e boa leitura!
Quais mudanças as temperaturas mais
baixas provocam no corpo humano?
A temperatura média no nosso corpo deve permanecer entre 36,5 e 37,5 ºC; temperaturas
diferentes destas fazem com que mudanças fisiológicas próprias ocorram para que
o funcionamento do corpo não seja prejudicado.
Quando
o hipotálamo, que é uma região do cérebro que funciona como um termostato (veja
uma imagem aqui),
recebe informações de que a temperatura está mais baixa, ele precisa garantir
que não haja perda de “calor” do nosso corpo para o meio externo, pois em casos
extremos, os órgãos tendem a parar de funcionar e podemos morrer (como na
hipotermia). Por isso, diversos mecanismos de resposta ocorrem, como a vasoconstrição
periférica – diminuição da circulação de sangue na pele que resulta em menos
perda de calor para o ambiente - e o aumento da taxa metabólica – que resulta
no aumento da produção de “calor” pelo nosso corpo.
Além
disso, no frio nossos pelos ficam levantados (figura 1) –
o que ajuda a manter uma pequena camada de ar ao redor do nosso corpo,
funcionando como isolante térmico - e podemos sentir calafrios, que são rápidos
movimentos musculares que também produzem “calor”. Como animais homeotérmicos,
ou seja, que conseguem manter sua temperatura corporal constante, temos um grande
arsenal de respostas fisiológicas ao frio, mas isso não impede que busquemos a
luz do Sol, como outros animais, para nos aquecer.
Figura 1: os pelos
levantados na pele são uma das respostas ao frio.
(http://super.abril.com.br/sites/super-interessante/files/styles/news_medium/public/branco-arrepiando.jpg?itok=-ZgeVMiP)
Por que algumas pessoas sentem mais
frio do que outras?
A
temperatura em um ambiente é igual para todos, mas a percepção da temperatura
pode variar de pessoa para pessoa. A idade, o peso e até o hábito de se expor
ou não às baixas temperaturas pode explicar como as pessoas reagem de forma
diferente às mudanças no termômetro. Pessoas idosas e crianças, assim como
pessoas com o organismo debilitado por causa de alguma doença, geralmente sentem
mais frio que adultos, e quem está “acostumado” com baixas temperaturas não percebe
tanto essas mudanças.
Essa
diferença de sensação térmica é explicada pois nosso corpo tem receptores
térmicos de frio e calor (que ficam logo abaixo da nossa camada de pele) e que
percebem as variações de temperatura externa, porém essa percepção dos
receptores é diferente de pessoa para pessoa, logo a sensação de calor ou de frio
também muda.
Por que comemos mais no inverno?
Existem
várias teorias que tentam explicar isso. Algumas pesquisas relacionam a vontade
de comer mais com depressões sazonais (nesse caso, relativas às mudanças nas
estações do ano), visto que em muitos países o inverno é extremamente rigoroso,
com dias no escuro, o que pode levar algumas pessoas a ficarem deprimidas.
Outras
pesquisas apontam que é um comportamento que herdamos dos nossos ancestrais: na
pré-história dias mais frios e escuros indicavam que era hora de comer bastante
para guardar gordura no corpo e enfrentar os rigorosos invernos, que geralmente
não tinham muito alimento disponível. Logo, é como se o nosso cérebro estivesse
com essa instrução guardada ainda e por isso os dias mais frios nos deixam com
mais fome e principalmente de comidas gordurosas. Além disso, depois de
aproximadamente 1 hora que comemos, nosso corpo pode aumentar em até 10% a
geração de “calor”, o que também é bom para os dias frios.
Mas,
diferente do que a maioria das pessoas pensa, nós não gastamos muito mais
calorias no inverno! O nosso corpo pode gastar até um pouco mais de energia
aquecendo e umidificando o ar que respiramos, produzindo os movimentos de
calafrios ou até mesmo (em situações mais extremas) para carregar o peso extra
das roupas de inverno, mas é uma quantidade pequena se comparada a todo o nosso
metabolismo.
Podemos
ver então como o nosso corpo dispõe de um arsenal de respostas fisiológicas ao
frio, que nos mantêm vivos desde a época de nossos ancentrais pré-históricos.
Os outros animais também precisam manter-se quentinhos no inverno: os répteis,
por exemplo, ficam ao sol se aquecendo (figura 2a), pois a temperatura destes
varia conforme a temperatura do ambiente; já os pássaros eriçam suas penas (figura
2b) tentando manter uma camada de ar ao redor de seu corpo, assim como nossos
pelos se levantam também.
Figura 2 a: os répteis tomam sol
para regular sua temperatura.
Figura 2 b: as aves eriçam suas penas para manter uma
pequena camada de ar ao redor de seu corpo.
http://www.bbc.co.uk/gloucestershire/content/image_galleries/winter_birds_gallery.shtml
Agora
que você sabe mais sobre o seu corpo e as mudanças que o frio provoca não
adianta mais a crença de que frio é “psicológico”, pois tudo é explicado pela
ciência!
Dúvidas
e sugestões? Comente na nossa página!
Até mais!
Por Nathália de Moraes
nathalia.esalq.bio@gmail.com
Referências
Qual é o nível máximo e o mínimo que a temperatura do corpo pode atingir?
(sem data). Acessado de http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-e-o-nivel-maximo-e-o-minimo-que-a-temperatura-do-corpo-pode-atingir
em abril de 2015.
Febre. (sem data).
Drauzio Varella. Acessado de http://drauziovarella.com.br/letras/f/febre/
em abril de 2015.
Ooijen et al. (2004). Seasonal changes in metabolic and temperatures
responses to cold air in humans. Physiology & Behavior.
82:545 – 553. Disponível em: http://www.mate.tue.nl/mate/pdfs/4319.pdf
Biofísica das trocas de
calor corporal. (sem data). Acessado de http://uab.ufac.br/moodle/pluginfile.php/5249/mod_resource/content/1/biotermologia%201.pdf
em abril de 2015.
Entenda por que o frio
não é o mesmo para cada pessoa. (20/06/2014). Acessado de
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/planeta-ciencia/noticia/2014/06/entenda-por-que-o-frio-nao-e-o-mesmo-para-cada-pessoa-4531636.html
em abril de 2015.
Ambient Environment:
Thermal Sensation. (sem data) Acessado de
http://ergo.human.cornell.edu/studentdownloads/dea3500notes/thermal/thsensnotes.html
em abril de 2015.
Michelena, J. &
Mors, P. M. (2008). Física Térmica: uma abordagem histórica e experimental. Em:
Textos de Apoio ao Professor de Física. Porto Alegre: UFRGS, Instituto de
Física. Acessado de http://www.if.ufrgs.br/public/tapf/v19n5_Michelena_Mors.pdf
em abril de 2015.
Annie Hauser. (sem data). Why Do We Eat More in Winter? Acessado
de
Nancy Clark. (sem data). Winter and Nutrition: Fueling for Cold-Weather
Exercise
Acessado de http://www.active.com/nutrition/articles/winter-and-nutrition-fueling-for-cold-weather-exercise
em abril de 2015.
Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirEu devo ter um cérebro pré-histórico que pensa que todos os dias são frios e escuros! heheheh
Obrigada pela leitura e feedback, Lucas! Acho que todos temos essa informação guardada em nosso cérebro! Continue acompanhando nosso blog :)
Excluir