Fotografia Rodovia SP-304, trecho Jaú-Santa Maria da Serra. (Fonte: Nathalia Brancalleão) |
É
cada vez mais comum observar durante uma viagem pelas estradas do sudeste do
país que, as paisagens antes só ocupadas por cana-de-açúcar, vêm sendo
substituídas por grandes plantações de eucaliptos. Esta espécie arbórea é
originária da Austrália e adaptou-se muito bem às terras brasileiras,
mostrando-se vantajosa em relação às outras espécies nativas para a produção de
papel e celulose, já que apresenta características como o crescimento rápido e
alta produtividade.
Não
demorou muito para o eucalipto chamar a atenção da indústria, principalmente em
relação à produção de carvão, madeira, papel e celulose. Segundo a Associação
Brasileira de Florestas Plantadas, nos próximos anos haverá um aumento de 45%
na demanda de madeira na indústria. Para suprir essa demanda será necessário aumentar
a área plantada e melhorar a produtividade das plantações. O aumento da área
plantada pode favorecer o aparecimento de doenças nas plantas, como a ferrugem
que é causada pelo fungo biotrófico Puccinia
psidii Winter. Este fungo é considerado biotrófico por precisar obrigatoriamente
da planta para sobreviver e reproduzir, assim causando a diminuição de 60% do
crescimento do da planta, reduzindo drasticamente sua produtividade.
Mas
como poderia ser feito o controle desse fungo? Existem diversas maneiras: a
utilização de fungicidas, o corte de árvores para rebrota e o uso de plantas
resistentes. Entre essas, o uso de plantas resistentes é o mais comum pelo
baixo custo, a maior praticidade e o menor impacto ambiental. No entanto, o que
ocorre na prática é a rápida quebra de resistência das plantas selecionadas, devido
à ação deletéria destes fungos no mecanismo de resistência à doença que essas
plantas apresentam. Em decorrência disso, o estudo do mecanismo de
patogenicidade, ou seja, da interação entre o fungo causador da doença e a
planta hospedeira é de extrema importância para o controle da produtividade, e
vem sendo cada vez mais incentivado nos últimos anos.
As
plantas apresentam diversos mecanismos gerais para tentar barrar a entrada do
fungo nas suas células, como a presença de ceras, de cutículas e da parede
celular. Esses componentes celulares estão ligados diretamente com a proteção
da planta, já que dificultam que outros organismos colonizem suas células. Os
fungos por sua vez, durante a infecção fúngica, secretam grande quantidade de enzimas
para garantir a colonização da planta. Entre essas estão as enzimas chamadas
pectinases, que são capazes de degradar as pectinas encontradas na parece
celular vegetal. As pectinas são polissacarídeos e representam os principais
componentes da perece celular, sendo fundamentais para a proteção da célula.
As pectinases são de extrema importância, pois
são as primeiras enzimas secretadas no processo de infecção, ajudando o
patógeno a colonizar o hospedeiro. Entre as pectinases, existe a pectina
metil-esterase que atua alterando a estrutura das pectinas, tornando possível a
entrada do fungo na planta. Em resposta ao fungo, a planta produz inibidores
específicos, como por exemplo, o inibidor de pectina metil-esterase, que como o
nome diz, atua inibindo a ação dessa enzima fúngica. A relação entre a produção
das enzimas pelo fungo e dos inibidores pela planta pode ser a chave para
tentar barrar precocemente a entrada do patógeno, evitando a infecção, contribuindo
assim para o aumento da produtividade do eucalipto, tão desejado pela indústria.
O
eucalipto vem ganhando cada vez mais espaço no mercado brasileiro, tanto com a
indústria de carvão e celulose, quanto com o seu potencial futuro na produção
de biocombustíveis. Meu projeto, em parceria com a FAPESP (Fundação de Amparo a
Pesquisa do Estado de São Paulo), busca entender melhor os mecanismos de
interação do fungo com a planta, para tentar impedir a entrada do fungo já nas
primeiras etapas do processo de infecção, conseguindo assim controlar a doença
e diminuir a perda de produtividade das plantas.
Por Nathalia Brancalleão
nathalia.brancalleao@gmail.com
Referências:
[1] Romão, A. S., Spósito, M. B., Andreote, F. D., Azevedo, J. L., & Araújo, W. L. (2011). Enzymatic differences between the endophyte Guignardia mangiferae (Botryosphaeriaceae) and the citrus pathogen G. citricarpa. Genetics and Molecular Research, 10(1), 243-252.